30 de ago. de 2007

Terceiro lugar (rapto do algoz)

Em mais uma de minhas andanças
chego ao meu terceiro lugar...

Ontem, como de costume, fui a uma cartomante.
Fiquei horas ouvindo ela falar de mim.
Contou-me que eu era filho de um senhor cego
que morrera de fome e de sede
disse-me ainda que ele guiava meus passos

-até aqui não havia entendido o que ela queria dizer com isso...

lembrei que ela sempre falava de minhas vidas

-isso sempre me deixava incomodado;

como pode alguem saber de mim o que nem eu mesmo sei?
quando sai, me dei conta que tinha deixado algo para trás
olhei para o chão, até a porta vi somente um tapete onde lia-se; "Seja bem vido"
Pensei que ser bem vindo em um lugar como aquele não era previlegio meu.

-Até que estou indo bem, pensei...

...pra quem deixou o corpo ingenuo num terceiro lugar qualquer...

23 de ago. de 2007

Falar!°º

"
.. posso ficar sem falar?

posso ficar sem falar mas nao sem notar!
na verdade os mudos falam o que o mundo nao ouve ... os surdos ouvem o que os olhos nao veem ... e os cegos .. vem o que ... que deixam passar sem perceber ! "

1 de jul. de 2007

Desejos amarelos



abrir os olhos
Parar de prever parar de sonhar

Não vou tentar ser algo que não sou

não prefiro me perder num devaneio molesto de fingir estar vivendo , quando apenas sobrevivendo e hipocritamente sendo controlado ..

não tenho de suportar essa muralha de opressão contra ser humano e o ser humano...

o ciclo dessa avelhentada corrente , ganha força a cada renuncia a um pedido de socorro , a cada sorriso triste no rosto , a cada bala perdida .... minha alma clama por intrepidez ... o medo da solidão vive a sufocar-me a me matar sem pedir perdão..

estou me afogando nas lágrimas deste fim
mas são lágrimas vermelhas que molham o meu jardim

20 de jun. de 2007

O Cavaleiro de latão III (A saga do Sr. Errante)




E o que realmente importa?
Aí parado,
Secando calado,
Sufocado por enormes prisões de concreto,
Numa tentativa de tocar a palma do céu,
Prisões gélidas, cinzas e altas,
Pra onde olhar cavaleiro errante?
Se o que há é só essas luzes sem calor,
Em meio a fagulhas de almas andantes,
Humanos,
Esmagado pela solidão da humanidade,
Faíscas de fogo coroadas de espinhos
Um caleidoscópio enturvecido
Com gotas que mais parecem linho
Usando roupas de couro
Nos pés grilhões de prata
Carregando a sua espada
Entre os dedos as contas do terço
Cantarolando uma novena
Até que se faça a chuva
E a morte enfim permita
À vida um terço de contentamento
No sertão da alma ardida
Fulgura a esperança
Como faca afiada
De sua luta nunca cansa
Em tempos de agonia
Levanta as mãos e canta...

Até onde deve chegar?

Por Judah e Adriano

10 de mai. de 2007

Suspiros à meia luz

Uma luz rasgou meus olhos
Como súbita miragem,
Plasmando em sua boca entreaberta,
Ardendo em seus seios nus.
Te fiz em meus braços,
Juntou-se mãos e lábios,
Pelos pêlos e pele,
"Frio e calor",
Nesses tremores silenciosos.
Percorro rabiscos em ti
Transpirando sob meus dedos,
Abrindo sentidos.

E em meio a nós
Antecedendo pensamentos,

Em meio ao ar
Precedendo suspiros,

Em meio aos lençóis
Flertando movimentos,

Calmo e caótico
Medo e amor...

11 de abr. de 2007

Desilusão ( O último fim do que se foi )

O último sorriso se desfez no que então
Se disfarçou como um simples desejo
Na tentativa de forjar esquadros de nós
Em nossa cena de santos diabos num beijo

O último desenho pairou em seu olhar
Como rabisco de felicidade
Nos lábios tristes
Num canto sem voz

A última vontade insana
De permutar meu corpo no seu
Lábios, pêlos, mãos e sons
Se desfez como fim de sono
Despertar desesperado
Subito fim do que já era acabado

Nossos desejos dispersos no nada
Olhos que a horas passadas após essas
Desejariam nem ter te encontrado
Nem seus lábios sentido os meus
Pra nas horas que vem após essas
Ainda querer sentir

Deixe meu olhar fugir
E não me impeça de durmir
Pois o que tanto queríamos
Figurou-se enfim
Um equilíbrio perdido
Um feliz fim
Pois eis aqui meu bem
Dedico a ti
O nosso pecado perfeito!

28 de mar. de 2007

Elevada imensidão ( Ou serra da fumaça )

E lá no alto dos meus sonhos
Onde o carcará canta e faz saltos no ar
Eu tento ganhar asas e voar
Onde os pensamentos são dispersos
Tateando a imensidão
No mais alto dos desejos
Tal qual a positiva vibração
Soam ecos do bem
Para aos ouvidos de meu bem
Se fazer assoviar
Pois bem o que a gente não tem
É o nosso maior bem
Em que da livre
Um leito lento e fundo
Manso e negro
Por que todo bom fim
se acaba num novo começo

14 de mar. de 2007

A ultima lembrança até então (ou Em carne morta)

Essa é a ultima lembrança que tenho... Estava sentada a mesa... Acordei com as costas ardendo, me apoiei sobre as muletas em uma busca inútil por um pouco de equilíbrio.
Gargalhadas rasgadas em trapos ecoavam
no vão que ocupava todo o espaço entre os giros de meu cérebro,
interrompidas somente pelo barulho
insitentemente produzido por um isqueiro sendo acionado,
no outro canto do que eu julgava ser uma cozinha.
Agora sei que não estou só, consigo até enxergar algo,
com o auxilio de um ponto de luz produzido por um cigarro aceso,
entre dedos um pito apertado.
As palavras que ouvia não eram conhecidas...
Foi então que tive mais uma visão: Havia um carro e eu estava lá,
Em algum lugar entre os pneus e o para choque...
Eu havia morrido... Mas como?
E esse cigarro quem o segurava?
Beije-me os pés!
Aquela voz... Parecia-me conhecida.
Era a voz que toda noite me dizia pra não temer
Pois o razoável é vão
E o que realmente importa não podemos alcançar...
A silhueta então se fez clara,
tão clara que por um instante fiquei totalmente cego
Quando retomei a visão Estava eu diante de mim, eu só...
Olhando pra porta de minha casa aberta,
Lá fora corriam meus filhos,
em direção ao ponto de ônibus
Passei a mão no rosto e novamente esqueci
Conto-lhes assim que lembrar.

8 de mar. de 2007

°°Frequência°°


Em um largo espaço de probabilidades

Vi meu corpo rente ao tempo

Livre em mente

Vivo constantemente

Os sonhos queimam livre

Liberdade!

...

Os jornais já não dizem o que gostaríamos de ver

Sentir; sorrir; pular;correr...

Viver!

Contração; Contração; Contração;

Sintonia!

Outra vez

Sintonia!

...

Pra viver

Um pouco mais de sintonia.

...

Uma palavra para aliviar

Uma gota para molhar

Um infinito para buscar

Semente para plantar

Corretivo para disfarçar

A farsa

...

Numa freqüência demasiada iludi e formata

...

Sentar e ver

...

Correr; tentar... Pra olhar e ver talvez Trasmurecer.

...

Resta a esperança

A esperança

...

Mais ilusões pra viver.

19 de jan. de 2007

Bem astral (moça do litoral)


Estava lá eu, eu só

...

Estava

...

Vendo o dia chegar e passar

Vendo tudo nascer (florescer) morrer

Foi quando avistei no alto um ponto mais alto do que já havia imaginado

Sendo você o ponto no alvo

Tão bela tão linda

Gotas de cristal

Flor do litoral

Beleza surreal

Serena sereia do mar

Paralisando meu ser

Cristalizando meu viver

Pra viver...

Você se vai a noite cai o dia acaba

E tudo se vai...

Mas o sonho...

O sonho Não morre jamais...

E lá eu só... Estava lá...

Vendo o dia chegar e passar

Vendo tudo nascer (florescer) morrer

12 de jan. de 2007

travessia ao outro lado (O menino e a rua)

Olhou firme para o horizonte
Como quem encara o opressor
Um desconhecido sedutor
Apertou os dedos na correia do chinelo
Suas mãos suadas
Apertando com rigidez duas moedas
Esperou o cavalo de metal se esvair em suas vistas
Sentiu o seu momento
Esse era o momento sólido
A passos rasos seguiu avante
E nem iria voltar
O sol sobre seus ombros
Não havia dragões
Nem libélulas gigantes no céu
Ele iria chegar
Já estava no meio pro começo
Ou no meio do fim de seu ato
E os maiores o olhavam desconfiados
Mais ele seguia reto
Pelo ínfimo intento de voltar
Os altos chaminés não iriam o parar
Conseguiu a calçada alcançar
Reparou a vitória no intimo
Chegou até trupicar
Mais três passos largos
Seu luzeiro já podia avistar
Nem o bixo papão poderia evitar
De seu fado do dia alcançar..
Entrou pela abertura de entrada:
-Seu padeiro, eu quero uma broa!

10 de jan. de 2007

Lei nº 1.807 ( ou Sodoma)

Na límpida mão estendida
Cabe apenas um sorriso
Um coro de almas
O chacoalho do guizo
Entre gritos de apelo
o metal corta o vento
Uma marca feita a brasa
descansa em seu ventre
toda noite entre as curvas desse céu
entre um feixe e outro de claridade
a sombra do oculto usa o véu
soprando no ar da vaidade
Mais um soneto de saudade
E pela manhã o sol não brilha
Todo encanto se perde
E as lembranças são ilhas
Cercadas pela maldade
As lembranças são ilhas
Fingindo identidade.

9 de jan. de 2007

Caos em 3ª pessoa

É como o estampido de uma bala no silêncio da noite
-Corre menino, que o seifador já vem!
e pula o muro
e corta o vento
e emudece as palavras
estava ali caido sobre se
em cima da propria ferida gélida
tão natural como o parto na senzala
veio a sentença:
-A vida lhe foi tomada
a mesma vida que outrora lhe pertencia
agora descansa entre outros muros
em outras toadas de berrantes
mais um entre os meus tantos burregos
como em uma profecia:
-findou-se por ser pó.

Queda livre (ou conto do indigente)

Isso não é apenas uma metáfora
a história mais uma vez me fez acordar
e ninguem vai me fazer desistir agora
os seus olhos são os espelhos,
mas as luzes cegaram-me as vistas
se todas as janelas estão abertas
então temo por minha vida
nos flancos entre as mesmices do nosso cotidiano,
busco agora um salto que possa acalmar toda a dor
no silêncio do meu pranto
entre o primeiro grão de areia
e a lona entreaberta
aqui ou em outra estação.

4 de jan. de 2007

Amanhecer (moça da saia verde)

As nuvens se abrem pra sentir
A luz em seus olhos nascer
E as ondas desenhos nos faz
No céu o sol conceber
Rasgando o silêncio do ar
Teus pés areia e sal
tocando as pontas do mar
É onde me perco na vontade
E o horizonte pode espiar
Em ti eu me atirar
Em seus lábios os meus
Os pássaros por nós cantar
Poder sentir os seus seios
Trasmutando calor
Transmitindo amor
intenso
pecador e passsageiro
E a lua vai sumir
E você vai fugir
Pode fingir
Se talvez
você pensar em ficar
Até o sol vai sorrir
E as ondas vão cantar
Cantos de ilusão
coração
Ter você pra mim
E a noite morreu,
E o sol vai nascer
Pra você
Que nem conheci...

Ad infinitum (ou quatro amigos numa tarde de sol)

Um alguém disse
irmãos de vida,
dividindo esse mesmo cordão umbilical que poucos vêem,
sem ciúmes, inveja ou pena!
que caminhando só
por rotas tortuosas
repara que só não está,
e não prescisa desse mundo mutante
para se interligarem,

O outro qualquer falou
somos herdeiros de um só terreno,
somos todos herois compartilhando
um mundo pequeno,
salvando uns aos outros...
e no alto do morro que somos,
cabe apenas dizer que impreterivelmente,
sejamos todos uma só
fonte intermitente
como fora o rio,

então um outro disse
e nem se sente que começa ,
mas faz de tudo pra não terminar,
assim como o horizonte no mar,
inicia-se num certo lugar
e mesmo com todas ondas a enfrentar,
se for realmente verdadeiro
consegue perseverar,
e como belos irmão
chegam ao lugar
predestinado...
mar,
sangue,
irmão, amizade, ondas...

e um outro olhou e sorriu..

e os corpos ocuparam o mesmo lugar...

por Adriano, Gleydson, Jairo e Judah